Por Maurício Ferreira e Willian Oliveira*
Os acidentes são os principais responsáveis pelo prejuízo financeiro no transporte rodoviário de cargas no Brasil. Em 95% dos casos, as ocorrências estão associadas ao fator humano: cansaço, fadiga, velocidade incompatível com a via, falta de atenção e desrespeito à legislação.
Nesse contexto, a falta de treinamento preventivo e a pouca capacitação técnica se tornam agravantes. Nas operações que envolvem a movimentação de cargas pelas estradas brasileiras, 72,12% dos sinistros são acidentes, um percentual muito superior ao de roubo de cargas (27,88%), segundo estudos de sinistralidade da nstech – maior ecossistema conectado de tecnologia para logística e mobilidade da América Latina.
Outro levantamento realizado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) revela que, em 2021, o Brasil registrou 5,4 mil mortes e mais de 64,4 mil acidentes nas rodovias, com o envolvimento de pelo menos um caminhão em 27% dos casos. O prejuízo anual é superior a R$ 12 bilhões e tem reflexos no equilíbrio financeiro de embarcadores e transportadores.
A conta pesa também para a sociedade. Se somados os custos relativos à perda de produtividade das vítimas e as despesas médicas e hospitalares, o valor pode superar R$ 50 bilhões, segundo cálculos do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
A soma de tantos prejuízos coloca em xeque o futuro do negócio. Além disso, a prevenção demonstra a responsabilidade social da empresa, o que, em tempos de fortalecimento do conceito ESG, se faz determinante para a garantia da competitividade.
Para reverter esses números é fundamental que a inovação e o uso de tecnologia sejam prioridades no setor logístico. A segurança nas operações de transporte rodoviário passa, sem dúvidas, pelo investimento em ferramentas de monitoramento das viagens e, principalmente, por estratégias de prevenção de acidentes. A tecnologia tem se mostrado um importante diferencial no aprimoramento da segurança. No caso do roubo de cargas, seu uso já surtiu efeitos satisfatórios, com números controlados em operações bem monitoradas e que contam com planos de gerenciamento de riscos efetivos.
Já os acidentes vêm se perpetuando no país, com reflexos diretos no custo dos seguros e nos preços repassados ao consumidor final. É evidente que gerenciar 2,9 milhões de caminhões e 2,1 milhões de motoristas profissionais que percorrem os mais de 1,7 milhões de quilômetros de rodovias brasileiras não é tarefa fácil.
Uma análise de 24,5 mil viagens durante três anos identificou que o percentual de motoristas com condutas inadequadas ultrapassou 30%. Isso significa que se a cultura de prevenção não for implementada de forma séria e prioritária na gestão de transportes, seguiremos verificando a severidade e a frequência dos sinistros.
Felizmente, já existe tecnologia capaz de elevar a segurança nas operações, não apenas reduzindo os prejuízos financeiros, mas, principalmente, salvando vidas. Cases de sucesso já surgem em alguns transportadores e embarcadores, comprovando a eficiência destas tecnologias. Além disso, não podemos esquecer que os acidentes têm impactos no meio ambiente, contaminando fauna, flora, solo e rios.
É dever do setor logístico tornar as viagens mais seguras, garantir que as cargas cheguem intactas ao destino, promover a segurança e a qualidade de vida de caminhoneiros e de outros motoristas que circulam pelas estradas brasileiras e contribuir, inclusive, para a preservação ambiental e a redução nas emissões de CO₂.
Existe, sim, tecnologia capaz de salvar vidas. Cabe a todos nós considerá-la prioridade.